por Daisy Klein
Vivemos tempos de grande transição, e as mudanças destes tempos não estão acontecendo somente por conta do rápido avanço tecnológico. Sim, o avanço tecnológico é enorme, mas ele, em conjunto com outros elementos, como o advento da pandemia, a falência de modelos econômicos e políticos atuais, as novas gerações que tem outra mentalidade, as gerações maduras, cada vez mais longevas, e até uma evolução nos questionamentos da humanidade sobre o que fazemos aqui e porque é assim, estão “empurrando” uma grande mudança no comportamento humano.
Digo “empurrando” porque somos resistentes às mudanças por natureza. É interessante notar como as mudanças tecnológicas são muito mais rápidas do que as do comportamento humano. Preferimos ficar acomodados onde estamos, e isso leva à demora para as mudanças de comportamento, que poderiam ser mais rápidas e menos sofridas.
E neste momento de alta tecnologia que estamos vivendo, cabem, além das mudanças de comportamento, muitos questionamentos sobre a ética e futuro da humanidade. É por isso que estamos vendo um renascer de pensadores de muitas áreas questionando a forma que vivemos, de historiadores e filósofos a economistas, acadêmicos e não acadêmicos.
Que sentido faz tanta tecnologia, se não estiver à serviço do bem comum? Sendo bem comum aquele que contempla toda a vida na terra em equilíbrio, do planeta ao menor elemento, incluindo os seres humanos. Aquilo que é bom para as várias partes e não para algumas partes.
Para citar dois grandes movimentos em curso com esse olhar sistêmico:
– Laboratórios em Ação da Economia Donut em várias cidades do planeta 1)
– Movimento global dos ODIs 2) (Objetivos de Desenvolvimento Interno) compilados por acadêmicos globais relevantes e não acadêmicos, que complementam as ODSs (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU, trazendo ferramentas para melhorar habilidades que permitirão às pessoas atuar mais nas mudanças que o mundo precisa.
No enfoque do futuro do trabalho, minha maior área de pesquisa por trabalhar com orientação profissional de adolescentes até maduros (sim, muitos maduros estão em busca de propósito e transição de carreira), percebe-se maior polaridade entre profissões high tech e high touch: muitas profissões evoluindo tecnologicamente, e com isso a necessidade crescente de profissionais nesta área, mas também muitas oportunidades no high touch, o cuidado ou “toque” humano, que dificilmente é substituído pela tecnologia. Exemplos de como isso recai sobre algumas profissões clássicas: as muitas engenharias estão todas cada vez mais high tech. Há gráficos interessantes no Relatório de Futuro dos Empregos 3) de 2020 e 2023 do Fórum Econômico Mundial mostrando essa migração. Já para profissões clássicas bastante técnicas que serão cada vez mais beneficiadas pela tecnologia, como medicina e direito, o diferencial estará no cuidado humano, desmembrado no mundo corporativo em “soft skills”, ou habilidades sócio-emocionais. Um médico que sabe se comunicar e até dar más notícias de forma cuidadosa e empática. Um advogado que sabe mediar melhor os conflitos entre partes.
Falando ainda de profissões do cuidado, há grandes oportunidades ligadas aos maduros. Nossa pirâmide etária está mudando rapidamente, e o público maduro quer estar economicamente ativo e saudável. E aqui falamos de uma faixa de 50 a 100 anos, com oportunidades na economia prateada de muitos novos produtos e serviços. Um exemplo de nova profissão para parte deste público que se sente sozinho é o walker-talker – uma companhia para sair, fazer uma caminhada e conversar.
E um terceiro grande papel que será cada vez mais procurado no mundo do trabalho, é o de fazer pontes entre a tecnologia e as necessidades humanas, como todas as profissões ligadas à design e experiência de usuários e clientes.
Muitas profissões vão mudar de perfil, como no exemplo das clássicas acima, já sabemos que muitas vão desaparecer por conta da tecnologia, mas também muitas novas estão sendo e ainda serão criadas.
Alguns números relevantes que falam sobre o fim de algumas e início de outras profissões:
– 47% dos empregos tendem a desaparecer nos próximos 20 anos e ser substituídos por novos modelos (fonte: Universidade de Oxford) 4);
– 65% das crianças da escola primária trabalharão em empregos que ainda não existem (fonte: Fórum Econômico Mundial) 5);
– A estimativa é que até 2030, de 75 a 375 milhões podem precisar mudar de categoria ocupacional e aprender novas habilidades (fonte: Estudo da McKinsey) 6);
Os mesmos Relatórios do Futuro do Trabalho citados acima mostram a ascensão da busca por habilidades sócio-emocionais, de autogestão e gestão de relacionamentos. Dentre as 10 habilidades mais buscadas para 2023 por empresas globais estão resiliência, flexibilidade e agilidade; motivação e auto-consciência, curiosidade e formação contínua (lifelong learning); confiabilidade e atenção à detalhes; empatia e escuta ativa e liderança e influência social. Essas necessidades vão muito além do letramento tecnológico.
A pandemia teve muitos efeitos colaterais, e um deles foi acelerar essas mudanças para um futuro do trabalho que já estava previsto. Muitas pessoas passando para home office, possibilitando também os nômades digitais. Maior automação e uso da inteligência artificial, e maior desemprego. Pessoas repensando suas vidas profissionais e se questionando sobre propósito.
Mediante todo este cenário de transformação inevitável, e que desejamos que seja para o bem comum, acredito em algumas atitudes que nos ajudam a nos mantermos relevantes e fluir melhor com as mudanças. Vou listá-las abaixo:
– Esteja aberto e curioso, buscando entender as mudanças, tendências e para onde elas levam;
– Mantenha-se atento, presente e consciente, questionando o que precisa ser questionado;
– Seja protagonista de sua vida profissional. Onde quer que esteja, empreenda-se.
– Na sua área de atuação: aprenda as novas tecnologias, explore como usá-las da melhor forma, e procure entender os diferenciais possíveis para além da tecnologia;
– Se você está em uma empresa, analise para onde ela está indo. O que é importante ali? Que tipo de profissionais estão buscando? Que áreas estão crescendo e sendo valorizadas? Como a empresa se posiciona no mercado? Qual é o seu propósito?
– Estude e atualize-se. Uma tendência líquida e certa é que precisaremos estudar e nos atualizar pelo resto da vida;
– Reveja seu lastro para ter clareza das habilidades sócio-emocionais já desenvolvidas e em quais precisa investir e melhorar;
– Questione-se: o que mais eu gostaria de fazer na minha vida? Que tal pensar em um plano B que contemple coisas que você realmente gosta, tem talento, o mundo precisa, e você será pago para fazer nesse futuro?
Ao invés de resistir às mudanças, o que só causa atraso e sofrimento, sugiro informar-se e preparar-se para fluir melhor e surfar as ondas da mudança.
Links citados no texto:
1) https://doughnuteconomics.org/
2) https://innerdevelopmentgoals.org/
3) https://www.weforum.org/publications/the-future-of-jobs-report-2023/
4) https://www.oxfordmartin.ox.ac.uk/blog/automation-and-the-future-of-work-understanding-the-numbers
5) https://www.weforum.org/agenda/2017/01/realizing-human-potential-skills-jobs-care-work/
Artigo publicado na Revista Coaching Brasil, ed. 136, dentro da temática Tecnologia e Humanidade.
por Daisy Klein, palestrante e mentora de Orientação Profissional para novos tempos e Futuro do Trabalho. Também co-gestora da Plataforma Caleidoscópio, que prepara pessoas para a transição e para empreender negócios de valor.
Site: www.daisyklein.com.br
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Mini-bio
“Meus olhos brilham quando apoio pessoas a trazerem à tona seu próprio brilho.”
Sou Facilitadora do potencial humano e de Conversas Significativas para mudança de cultura e engajamento de times, através de palestras interativas, oficinas, jogos e jornadas. Também orientadora e mentora profissional, empreendedora e comunicadora.
No universo corporativo tive 18 anos de experiência com cargos ligados à administração, logística, turismo, marketing, vendas, procedimentos de qualidade (auditoras ISO), liderando muitas vezes projetos e equipes em multinacionais da área de comércio exterior e logística, inclusive times internacionais, e mais trabalhos de consultoria.
Empreendo há mais de 19 anos, com diferentes negócios, que foram do comércio à comunicação, cursos e serviços de palestras, consultorias, coaching e mentoria que exerço atualmente.
Dentre as formações estão Administração de Empresas pela FEA USP, Master & Wizard Avatar® licenciada pela Star´s Edge EUA, formações de Fluxonomia 4D (Futuring e Novas Economias), Coaching, Orientação Profissional, Facilitação online, Comunicação (Oratória, Comunicação não-violenta), novas formas de gestão e outras.
Resistência às mudanças; comportamento humano; bem comum; futuro do trabalho; soft skills; habilidades sócio-emocionais; tendências do futuro do trabalho; desemprego; Fórum Econômico Mundial
